Como é bom olhar uma vida de ininterrupta, de extensa e intensa dedicação aos mais pobres. Como é bom poder exclamar: Dom Aldo Gerna… Gratidão pela sua existência, gratidão pelo seu compromisso com os mais pobres, gratidão pelo exemplo e legado que inspirarão muitas gerações.
Alguns Dados Biográficos.
Bispo emérito da Diocese de São Mateus – ES – nasceu em Arigna, no município de Ponte in Valtellina, na Província de Sôndrio, Itália, no dia 7 de maio de 1931.
Ainda muito jovem (apenas 11 anos) ingressou na Congregação dos Missionários Combonianos. No dia 9 de setembro de 1950 professou solenemente os votos religiosos e foi ordenado sacerdote em Roma no dia 22 de dezembro de 1956. Chegou ao Brasil no dia 27 de novembro de 1957 e aqui permanece até hoje.
Homem tão culto e inteligente quanto simples e humilde. Estudou sociologia em Roma, na Faculdade Urbaniana e, ao mesmo tempo sabia sentar-se ao lado de um pobre e iletrado lavrador. Falava com sabedoria e ouvia com atenção e carinho.
Em São Mateus foi secretário geral da diocese e assessor de Dom José Maria Dalvit (primeiro bispo da diocese), acompanhando-o inclusive nas atividades do Concílio Vaticano II.
Com apenas 40 anos foi nomeado, pelo Papa São Paulo VI, como segundo bispo da diocese, sucedendo Dom José Maria Dalvit, que renunciou por motivos de saúde. Nomeado no dia 24 de maio de 1971 foi sagrado bispo e tomou posse no dia 1º de agosto de 1971 com o lema: “Scio Cui Credidi” – 2 Tm 1,12 – (Eu sei em Quem acreditei).
Depois de 36 anos de intensa dedicação e compromisso, no dia 03 de outubro de 2007, Dom Aldo Gerna deixa o comando da diocese por força da idade.
Desafios dos Primeiros Tempos de Missão.
Por sete anos foi secretário do bispo Dom José Dalvit. Período difícil, pois a região norte do estado do Espírito Santo vivia seu momento de ocupação e de expansão. Sentiu de perto as lutas e as dores do povo, as desigualdades sociais e a ausência de políticas públicas.
As longas e cansativas viagens, quase sempre a cavalo, marcaram o caráter oblativo e o impreterível compromisso com a missão, com os pobres e com a igreja.
Além das incansáveis viagens, dificuldades com problemas de doenças, sobretudo a malária, colocaram à prova a consistência, a tenacidade e o vigor missionário do então jovem padre Aldo Gerna. Como é bom lembrar situações como essas e poder dizer com São Paulo: “Dom Aldo… valente guerreiro… mensageiro da Paz … artífice de fraternidade… Você combateu o bom combate (2 Tm 4,7) … e venceu…”. Como é bom!
Dificuldades maiores foram aparecendo no caminho da defesa dos Direitos Fundamentais da população. Críticas, incompreensões e ofensas não faltaram. Mas, Dom Aldo sempre combateu, até hoje, o bom combate. Com firmeza, empatia e coração misericordioso.
Voltando do Concílio Vaticano II, Dom Aldo empenhou-se vivamente em implementar as diretrizes e deliberações do Concílio.
Intensificou sua presença nas pequenas comunidades de fé e na solidariedade com os mais pobres, imprimindo uma atuação menos assistencialista e passiva da população, e fazendo crescer o nível de consciência social e mobilização popular por políticas públicas emancipadoras.
Para isso precisava nortear o trabalho da igreja na diocese de São Mateus – ES – na germinação de uma nova mentalidade. Dom Aldo sonhava e lutou na formação de uma igreja despojada de ritualismos distantes da realidade do povo. Sonhava e lutou para fazer germinar uma igreja livre de cerimônias pomposa, mas queria uma igreja simples e pobre, comprometida com a vida dos pobres, assim como fez Jesus.
Que bom! Gratidão Dom Aldo Gerna.
Solidário no Sofrimento do Povo no Processo de Ocupação do Território Norte Capixaba.
Homem culto e inteligente, Dom Aldo sempre percebeu que qualquer análise sobre o Brasil, sobretudo com relação à sua estrutura socioespacial e sua dinâmica socioeconômica, deverá passar necessariamente pela estrutura, ocupação e organização do seu território rural e agrário. A consolidação da propriedade de terras e o modelo produtivo brasileiro é resultado de um desencadeamento histórico que teve como eixo um amplo processo de disputas e lutas para a colonização e ocupação de terras (Cf. André A. Michelato Ghizelini; Elisa Monfradini de Almeida).
Os mesmos autores afirmam que por
[…] diversos momentos da história, no que tange a produção do espaço agrário brasileiro, foram deflagrados processos de conflitos e mudanças nos regulamentos institucionais de forma a privilegiar certos grupos sociais, seja com a Lei de Terras de 1850, o Estatuto da Terra de 1964, o Plano Nacional de Reforma Agrária de 1984 e a Constituição do Brasil de 1988, entre outros. O saldo destes e outros processos de disputas pela terra teve como consequência um alto índice de concentração de terras. Estes e outros fatores levaram a formação da estrutura agrária brasileira, de norte a sul, leste a oeste, a uma realidade desigual e concentradora.
Foi neste cenário de conflitos, de violência histórica contra grupos humanos que participaram do processo de ocupação, de formação e estruturação do espaço norte capixaba que se deu o exercício do ministério do bispo missionário. Tais grupos sempre foram marcados pela pobreza, pela opressão e pelo domínio dos detentores do poder econômico e político de cada época.
Da presença dos povos originários e sua relação com os imigrantes, passando pelos migrantes brasileiros, a presença dos negros escravizados e por fim com a vinda dos imigrantes europeus, o território capixaba foi marcado por processos de conflitos e de formação de elites locais que demarcaram as relações econômicas, sociais e políticas, assim como a formação das cidades e a configuração dos espaços rurais (André A. Michelato Ghizelini; Elisa Monfradini de Almeida).
Grassava a impunidade para a elite hegemônica de cada época. Crimes, violência, usurpação da liberdade e das terras contra posseiros e agrupamentos humanos que viviam em pequenas propriedades rurais. Muito sangue derramado. Deus ouviu o clamor desse povo. E Dom Aldo também.
OBRAS
Três grandes obras físicas eternizarão o nome de Dom Aldo Gerna na diocese de São Mateus:
O Seminário Maior;
O Mosteiro da Virgem de Guadalupe.
A Catedral;
Reconhecimento
Dom Aldo exerceu grande influência na Igreja Católica do Espirito Santo, em especial como grande defensor das causas sociais, sempre em defesa dos menos favorecidos. A sua opção preferencial pelos mais pobres, a sua defesa pelo povo, e sua coerência no exercício missionário foram marcas de sua atuação, com reflexos significativos até os dias atuais.
Sempre grato a Deus, à vida e a seus mestres, Dom Aldo afirma que teve dois importantes mestres de vida e ação pastoral: Dom João Batista da Mota e Albuquerque e Dom Luis Gonzaga Fernandes, que foram, respectivamente, arcebispo e bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória-ES.
https://premiodomluis.es.gov.br/dom-aldo-gerna-bispo-de-sao-mateus-ano-2006-2a-edicao
Fidelidade à Vocação Missionária, Compromisso Solidário Com o Povo Sofredor, Espiritualidade Viva e Ativa.
Muito hábil e capaz de conduzir a sua Diocese com carisma profético, mesmo nos difíceis anos da ditadura militar que terminou oficialmente em 1985, buscou sua inspiração na Luz do Espírito Santo para compreender e empreender os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Também buscou inspirações no processo evolutivo da consciência coletiva da Congregação Comboniana.
Homem de muita oração e ação, Dom Aldo Gerna sempre combinou uma profunda espiritualidade com uma forte sensibilidade social. Costumava dizer que rezava a Deus pelo “povo santo de Deus” e testemunhava ao “povo santo de Deus” o Amor incondicional do Deus de Jesus de Nazaré.
Duas palavras se destacam no itinerário espiritual e no ministério pastoral de Dom Aldo Gerna: Mística e Missão. Termos inseparáveis.
Dotado de forte e destemido espírito missionário – sempre partilhado com seus confrades combonianos e com tantos agentes de pastoral – Dom Aldo sustentava sua vida nos sólidos fundamentos da oração e da mística. Isto o fortalecia diante de tantos desafios que encontrava no exercício de sua missão.
Assim, na celebração de seus 92 anos de vida, qualquer palavra se torna pequena diante da grandiosidade da missão, da dedicação, do caráter e da Pessoa de Dom Aldo Gerna.
Só para finalizar: Gratidão Dom Aldo. Gratidão Deus pela Vida e pela Missão de Dom Aldo.
José Archângelo Depizzol
05/05/2023
Deixe um comentário