Cenário.
Equador, uma terra paradisíaca com uma paisagem exuberante e uma cultura tão rica quanto sua biodiversidade, capaz de oferecer ao planeta os mistérios e as riquezas da Amazônia e oferecer ao universo a magia das Ilhas Galápagos e despertar o interesse de ninguém menos que Charles Darwin, que a visitou em 1835. Sua estada nas Ilhas Galápagos foi essencial para a construção de sua teoria da evolução das espécies.
Os equatorianos sempre souberam conviver com diferentes grupos culturais, respeitar as diferenças e viver de forma cordial e pacífica. Este cenário mudou nos últimos cinco anos e hoje o Equador vive uma grave situação de instabilidade nas instituições democráticas, insegurança e um clima de violência generalizada, com o governo declarando estado de emergência para suprimir o caos social no país.
Essa mudança é resultado do acaso? Fatalidade? É mera casualidade? Destino? Não!
Vários fatores deliberadamente concebidos contribuem para a mudança e estabelecimento deste clima de instabilidade e caos social.
A Guerra Invisível
Quatro adolescentes, o mais novo com apenas 11 anos, foram raptados, torturados e brutalmente assassinados. Mas isto não é apenas uma tragédia, é um sintoma de um problema muito maior: a militarização do país e a intromissão de potências estrangeiras.
A história de quatro meninos negros, brutalmente arrancados de suas vidas e de suas famílias, ecoa como um grito desesperado denunciando a face mais cruel do poder. No dia 8 de dezembro, quatro menores afrodescendentes foram presos e posteriormente desapareceram em Guayaquil. O mais novo tinha apenas 11 anos. Eles saíram de casa para jogar futebol. Não voltaram mais para casa.
Um vídeo disponível nas redes digitais identifica a ação de dez policiais prendendo, maltratando e colocando os quatro menores em uma camioneta.
Quinze dias depois, os corpos carbonizados aparecem perto de um quartel militar. Essa tragédia de Guayaquil, que chocou o mundo, revela uma realidade sombria: a militarização crescente nas instituições sociais, o racismo estrutural, a impunidade que assombra a América Latina, além dos interesses econômicos na geopolítica do continente sul-americano.
O que parecia ser uma guerra contra o crime organizado se revelou uma operação para reprimir a população e garantir os interesses de grandes corporações e de países como os que almejam a hegemonia na nova ordem mundial que se desenha na atualidade.
A militarização do Equador, com a criação de um estado paramilitar, está transformando o país em um terreno fértil para a violência e a violação dos direitos humanos.
A imagem dos quatro meninos, inocentes e cheios de vida, sendo arrastados por soldados em uma camioneta, é uma ferida aberta na consciência da humanidade. A brutalidade com que foram tratados, a tortura que sofreram e o destino cruel que os aguardava expõem a face mais sombria e perversa do poder. Seus corpos, encontrados carbonizados, são um testemunho mudo da barbárie que assola não só o Equador, mas o continente latino-americano. A dor de suas famílias, a indignação da sociedade e a revolta da comunidade internacional deveriam ecoar em cada canto do planeta.
Ao silêncio cúmplice do mundo se contrapõe o brado tonitruante do sangue de quatro adolescentes que só queriam brincar, que só queriam jogar futebol no campo sem grama da comunidade.
A Guerra Contra os Pobres
A militarização do Equador sob o pretexto de combater o crime organizado revelou-se uma guerra contra os mais pobres e vulneráveis. A população negra, historicamente marginalizada e discriminada, é a principal vítima desta violência (juntamente com as comunidades indígenas). A morte dos quatro adolescentes é apenas um exemplo do que acontece quando o Estado decide usar a força para reprimir a dissidência popular e garantir os interesses das elites e dos grandes grupos econômicos.
Nesse contexto, o racismo estrutural é um dos principais motores da violência no Equador. A discriminação racial, presente em todas as esferas da sociedade, torna os negros mais vulneráveis à violência policial e à impunidade. A morte dos quatro meninos é um crime racial, um ato de barbárie que não pode ser tolerado.
Da mesma forma, os povos indígenas, que sempre foram a voz da resistência no Equador, estão na linha de frente desta luta. A Conaie, principal organização indígena do país, enfrenta uma nova realidade: repressão e vigilância. Os povos indígenas, que no passado conseguiram mobilizar o país em grandes protestos, são agora vistos como uma ameaça ao status quo.
A Geopolítica da Violência e a Intervenção Estrangeira
A presença de potências estrangeiras no Equador, como os Estados Unidos, agrava ainda mais a crise. A busca por recursos naturais e a disputa pela influência geopolítica estão transformando o país num campo de batalha. O Equador está localizado em uma área estratégica com acesso ao Canal do Panamá e às reservas de petróleo da Amazônia.
Para limitar a influência chinesa na região (que construiu um grande porto no Peru), os Estados Unidos aumentaram a sua presença militar no país e adquiriram as Ilhas Galápagos do governo equatoriano para estabelecer ali uma base militar norte-americana. A entrega das Ilhas Galápagos para a construção desta base militar é um exemplo claro desta intervenção externa.
O Futuro do Equador
O futuro do Equador é incerto. A crise política, social e econômica ameaça desestabilizar o país. A violência, a corrupção e a desigualdade social estão corroendo as instituições e a sociedade. No entanto, a esperança ainda existe. A mobilização popular, a luta dos movimentos sociais e a solidariedade internacional podem contribuir para construir um futuro mais justo e igualitário.
Então?
A história do Equador nos mostra que a luta pelo poder pode ter consequências trágicas. A militarização, a repressão e a interferência estrangeira são ameaças reais à democracia e aos direitos humanos. É fundamental que a sociedade civil se organize e lute por um futuro mais justo e igualitário. A história do Equador é um alerta para todos nós: a democracia é frágil e precisa ser defendida todos os dias.
A tragédia em Guayaquil é um apelo à ação. Toda vida tem valor e grande significado. Toda vida importa! É necessário condenar a violência, posicionar-se radicalmente contra o racismo, exigir justiça e lutar contra todas as formas de neocolonialismo ou imperialismo que se aplicam hoje. A luta por um mundo mais justo e igualitário é tarefa de todos nós. A memória e o sangue dos quatro meninos afrodescendentes de Guayaquil devem nos mover e fortalecer nossa luta por um futuro sem violência, desigualdade, discriminação, opressão e todo tipo de ditadura.
Por José Archângelo Depizzol
12/01/2025
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